Cuide da boca e evite doenças em outras partes do corpo


DA BOCA PARA O CORPO

Muito mais que garantir um sorriso bonito, cuidar rigorosamente dos dentes espelha saúde nos quatro cantos do organismo. E, aí, o portal por onde entram os nutrientes e de onde saem as palavras não abre alas para problemas sérios no estômago, nos pulmões e até no coração.

Quem tem boca pode ir ao céu ou ao inferno. E esse destino só depende da atenção reservada a ela no dia-a-dia. Aqueles mandamentos que a gente conhece, mas nem sempre segue à risca, não são apenas indispensáveis à preservação da língua, da gengiva e de cada dente. Eles também ajudam a evitar infortúnios em outras redondezas do corpo. Sem exagero. Uma saúde bucal deficiente repercute em cheio nos vasos sangüíneos, nas articulações e em órgãos que, aparentemente, não mantêm íntimo contato com os dentes. Só aparentemente.

Não podemos enxergar a boca de maneira isolada. A boca também tem corpo. A maioria dos estragos eclodidos na boca é protagonizada por uma infinidade de bactérias. Ora, a cavidade bucal é um verdadeiro Olimpo para esses microorganismos. E, justiça seja feita, nem todos eles são malignos ali existe uma flora bacteriana essencial à digestão dos alimentos, por exemplo. O problema é quando a escova e o fio dental são deixados de escanteio. Aí os micróbios nocivos, por trás das cáries, da gengivite e da periodontite, proliferam-se e levam ao caos. Mesmo em uma boca saudável, há 200 milhões de microorganismos em 1 grama de placa bacteriana. Se ela estiver a caminho da ruína, então, o número pode bater a casa do bilhão. E as ameaças também se multiplicam.

Se a gente mata a fome e se esquece da higiene bucal, poucas horas são suficientes para a formação da famigerada placa bacteriana. Num processo contínuo, micróbios e mais micróbios se unem para monopolizar os dentes e a gengiva. E é assim que a placa, também chamada biofilme, torna-se mais espessa, chegando às vezes ao ponto de ser vista a olho nu. Com os ventos a seu favor, as bactérias vilãs passam a subjugar as espécies do bem. A placa propicia o aparecimento de dois problemas: a cárie e a doença periodontal. A primeira, arquitetada pela bactéria Streptococcus mutans, mina aos poucos o próprio dente. Mas a segunda, que começa como uma gengivite e evolui para uma periodontite, é mais assustadora. Ela detona toda a estrutura que liga o dente à gengiva e ao tecido ósseo.

A doença periodontal é mais assustadora, porque a cárie provoca dor e ela não. No começo, só produz sangramentos na gengiva. Ou seja, poucos lhe dão a devida atenção. São mais de 100 tipos de micróbios envolvidos com a patologia, que, se não tratada a tempo, faz os dentes desabarem. Ela é silenciosa e suas bactérias são mais agressivas. De cair o queixo também é a estimativa da incidência do problema no país. Oito em cada dez brasileiros adultos têm desde uma gengivite até seu estágio avançado.

As bactérias traiçoeiras fazem das lesões na gengiva e da corrosão do espaço entre dente e osso o seu portão de embarque para a corrente sangüínea. Alguns tipos mais terríveis compram, então, o bilhete para viajar até o coração, onde simplesmente estacionam. A doença periodontal aumenta o risco de problemas cardiovasculares. Pior ainda para quem já tem um defeito em uma válvula cardíaca, por exemplo esse sujeito fica, então, tremendamente suscetível à endocardite. Quando vamos ver, de cada dez pacientes com essa doença, de alta mortalidade, quatro ou cinco têm as bactérias na cavidade bucal.

Outra constatação recente é que pessoas com níveis de colesterol e triglicérides elevados podem ser reféns do ataque desses micróbios às artérias. Há trabalhos recentes demonstrando que algumas bactérias colaboram na formação de placas nos vasos sangüíneos, agravando o entupimento provocado pela gordura,. As agressoras, portanto, tornam-se o gatilho para a erupção de um infarto ou um derrame.

PERIGO EM DOSE DUPLA

O conflito que começa na boca semeia o suplício no corpo inteiro, principalmente se o dono dele for um diabético ou uma gestante. No caso das grávidas, a doença periodontal estimula o parto prematuro. Isso porque, quando as células de defesa rumam até a cavidade bucal para lutar com as bactérias, também liberam na circulação algumas substâncias as citocinas e as prostaglandinas que desregulam algumas funções em outros locais do organismo. E essas substâncias costumam acelerar o trabalho de parto.

Os diabéticos são um caso à parte. Vivem numa situação duplamente complicada. O açúcar que se acumula na circulação por causa do distúrbio favorece todo tipo de problema de inflamações a abscessos nas mucosas. E, se nada disso é tratado, a produção de substâncias inflamatórias é tal que desencadeia de vez uma série de mecanismos no organismo, inclusive aquele que faz a insulina ser utilizada direito. Problemas como a doença periodontal alimentam o diabete. Há indícios de que, quando ela é resolvida, a glicemia fica sob controle com maior facilidade.

Todo mundo sabe, mas não custa reforçar: além da  prevenção diária, a visita ao dentista é pré-requisito de uma boca em ordem. Até porque existem problemas, como restaurações em decadência e dentes mal posicionados, que só podem ser resolvidos no consultório. E saiba que, quando não remediados, eles só oferecem mais dor de cabeça à sua vida. Literalmente. Setenta por cento das disfunções temporomandibulares (DTM) são relacionadas ao mau posicionamento dos dentes. E, por sua vez, a tal DTM é que muitas vezes aciona o incômodo constante na cabeça.

Depois de tantas evidências, já deu para perceber que dentes saudáveis afastam males da cabeça aos pés. E isso, sim, é motivo de infindáveis sorrisos.

FONTE: http://saude.abril.com.br/edicoes/0299/medicina/conteudo_283019.shtml?pag=1

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